O susto (parte 2)
17 FEVEREIRO 2015, 17:05
A sala de emergência não era muito grande, tinha umas 7 macas. Muito diferente do que a gente vê nos filmes. Por sorte minha, não tinha ninguém muito arrebentado. Pelo menos não visivelmente. O André estava na primeira maca a esquerda da emergência, perto das portas de borracha preta grossa, Ao lado de um senhor de uns 80 anos que gemia bastante de dor na barriga.
O André estava ainda desacordado, com aqueles caminhos ligados no nariz. Vestido com seu pijama verde de tubarão.
Não respondia a nenhum chamado, mas chorava e reagia a dor. As enfermeiras pediram para que eu o chamasse, mas ele não respondia. Na verdade, no momento ele me lembrou muito os dias que eu tenho que acordá-lo de manhã para ir para escola. Chacoalhando ele, agitando seus braços ele abria os olhos, olhava para o vazio, ou as vezes focava os olhos em algo e logo voltava a dormir.
Minha principal preocupação na hora era não deixá-lo dormir. Umas duas ou três enfermeiras vieram perguntar o que tinha acontecido e eu recontei a história mais algumas vezes. Pela fresta da porta, eu via minha sogra, com expressão levemente desespersda tentando perguntar como ele estava, se ele estava falando ou algo assim e eu tentava responder "eu não sei".
Até que um médico careca com cara de boa gente veio falar comigo, eu falei que não conseguia mantê-lo acordado, ele apertou o externo do André com os nós dos dedos e disse : "nesses casos a dor funciona, mas não precisa se preocupar tanto. Ele só não pode dormir por muito tempo."
O telefone tocou algumas vezes, mas eu não quis atender para não perder o foco. Imaginei que quem quiser que fosse ligaria para a Dri atrás de notícias.
De repente o André pareceu Balbuciar algo e vomitou uns dois ou três jatos de suco de laranja com pedaços de manga. Eu, como estava na frente fui o principal alvo. E depois de me dar o "banho" ele começou a chorar de novo.
Depois de alguns instantes uma enfermeira veio trocar o papel que cobria a maca e limpar a própria maca. Me pediu permissão para cortar a camisa do pijama do André e nós limpamos a maca e o André.
Depois foi a hora de colocar o acesso. Uma enfermeira segurou seu braço enquanto outra aplicou a injeção e "instalou" o acesso no braço dele. O André chorou bastante, eu tentava acalmá-lo dizendo "calma... Papai está aqui..." e dessa vez, quando eu chamei ele olhou para mim e se acalmou. Pedi para ele segurar minha mão, e ele pegou minha mão com as duas mãos e abraçou-a junto ao peito. Nesse momento eu quase chorei.
Depois de alguns momentos, a médica chegou. Uma senhora magra, baixinha dr cabelos pretos. Olhou o André, viu o vômito em mim e no chão, perguntou o que aconteceu e disse.
"O caso do seu filho é muito grave, ele deve estar com o cérebro inchado e se tiver alguma trombose ele não vai sobreviver."
Engraçado como nossa atenção e percepção age às vezes. Minha reação foi algo como se essas palavras entrassem por um ouvido e saíssem por outro, e minha expressão deve ter sido algo como se eu dissesse "ã... Hã". Não sei se foi calma e frieza que Deus me deu ou se foi simples negação. A única coisa que passou pela minha cabeça foi: "nossa, como essa mulher é negativa!"
O André alternava momentos em que ele chorava, estava confuso, parecia não entender nada do que estava acontecendo e um sono profundo.
A mesma enfermeira que o tinha limpado disse que uma tomografia seria feita e começou a trazer instrumentos médicos para entubar o André. Chegaram mais alguns médicos para avaliar o André, um deles anestesista e perguntou se o André quem tinha vomitado. A enfermeira disse que sim e ele respondeu que não seriam necessários os equipamentos para entuba-lo, pois ele não iria anestesiar o André, seria muito arriscado caso ele vomitasse de novo. Me perguntou se eu conseguiria acalmá-lo caso precisasse e eu disse que sim, mas por dentro não tinha certeza alguma disso.
Fomos então para a tomografia. Queria ter visto a Dri no caminho, mas não a vi.
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